Nada interessa, o abismo aproxima-se

Este ano está a ser excelente para demonstrar que nada interessa.

Quase uma centena de palestinianos foram assassinados por Israel desde o início do ano, mas o que choca é um tiranete querer ficar no poder em Israel. De todas as atrocidades cometidas por Israel, Turquia, Azerbaijão. Arábia Saudita, Birmânia, Índia ou Etiópia só num espaço de uma década, nenhum dos seus líderes acaba com um mandato de captura emitido pelo TPI como aconteceu hoje com Putin e a sua invasão da Ucrânia (mas não é a de 2014, é a do ano passado!). 

O custo de vida aumenta constantemente e o que propõe o governo? Um programa de subsidiação de senhorios, facilitações de despejo, uso da Autoridade Tributária para penhorar rendas devidas, expropriação de imóveis devolutos, fim dos vistos gold e limitação do alojamento local (a que os habituais direitolos berram tratar-se dum "PREC da habitação"), selos de preço justo e um "observatório de preços" (enquanto os direitolos e as grandes superfícies tentam branquear quem enriquece com a especulação de preços propondo redução do IVA) e mais fiscalização (sempre precedida por um aviso da ASAE e com multas ridiculamente baixas). Por sua vez, o BCE liderado pela ex-directora do FMI na era infame da troika aumentou os juros "para controlar a inflação" e quer o fim dos apoios sociais, tenta assegurar que o sistema bancário está melhor enquanto o Credit Suisse leva a Europa de arrasto com o impacto do colapso do Silicon Valley Bank nos EUA e recusa de ajuda do seu principal accionista (Arábia Saudita).

E tudo isto enquanto Bruxelas e Washington continuam a propaganda de termos de dar armamento e munições à Ucrânia, até com um plano europeu comum de aquisição de munições, que gasta como se não houvesse amanhã, em vez de se pressionar ambos os lados a sentarem-se à mesa, mesmo que isso destrua a economia europeia. Os EUA já declararam como "inimigos" a China, a Rússia e o Irão, com a Europa, o Canadá, Israel, a Austrália e a Nova Zelândia a servirem de yes men enquanto a China aproveita o vazio de influência russo-ocidental no sul global, como aconteceu com a mediação chinesa para o restabelecimento das relações iranianas e sauditas, e a substituição da França embirrada pela Rússia em África.

Também as alterações climáticas não interessam: os países ricos estão a aprovar poços de petróleo e gás, destruição de património natural para extrair lítio e outros metais pesados, a reabrir centrais a carvão e a abrir as de biomassa e a expropriar terras indígenas onde há tais recursos. A destruição da Amazónia, das florestas africanas e do Bornéu e dos olivais em países ocupados no Médio Oriente continuam fortes, a par de secas agravadas pela vontade de alguns Estados em cometer genocídio (caso etíope e turco sobre os tigrés, sudaneses e egípcios e curdos, assírios, arménios, iraquianos e sírios, respectivamente) com saque de recursos hídricos..

Passam em branco a xenofobia britânica, a transfobia e censura nos EUA, a homofobia em Itália e os motins em França (em reacção ao aumento da idade da reforma por decreto), pobreza crescente para manter as grandes empresas no bem bom, genocídios dos aliados ocidentais, aceleração da corrida às armas global e a sabotagem dos programas fraquitos de mitigação dos efeitos das alterações climáticas (já são impossíveis de combater há décadas). Restam as distracções com casinhos políticos e eventos desportivos.

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